terça-feira, 16 de setembro de 2014

PANELAS NA PAREDE



Parando um momento para refletir, observei o quanto buscamos a felicidade em coisas e situações que não passam de um amontoamento de bens materiais e momentos sem muita relevância. Há quem busque a felicidade num carro novo, numa casa própria, em móveis, festas, encontros sociais. Não que tudo isso não nos proporcione momentos de alegria, mas será mesmo que com isso conseguimos conquistar felicidade?
Lucia, uma mulher de meia idade, muito batalhou na vida para conquistar muitos de seus sonhos, ou o que lhe pareciam instrumentos para a construção de uma felicidade que nunca chegou. Casou-se aos vinte, com o rapaz com quem ela desde adolescente quis casar, teve dois filhos, como havia planejado, e muito lutou para alcançar o status que ocupa hoje.
Dona de uma grande empresa de utensílios domésticos, é muito respeitada no mundo dos negócios, tendo sido por duas vezes campeã do Prêmio Panela de Ouro.
Com muito zelo, embora com dificuldade, Lucia criou os dois filhos ao lado do marido, que sempre a ajudou. A filha mais velha formou-se em direito e tem o próprio escritório, que toca ao lado do marido. O filho mais novo ainda cursa a Faculdade e é um aluno exemplar.
Agora uma pergunta: Lúcia é feliz?
Resposta: NÃO, Lúcia não é feliz.
Mesmo com tudo o que conquistou na vida, Lúcia não consegue viver feliz. O conforto, a segurança, os bens, os prêmios, nada trouxe a ela a felicidade que esperava alcançar.
Ao analisar a vida, Lúcia observa que feliz mesmo ela era quando morava com a mãe numa casinha simples de pau a pique, construída com muito amor por seu pai, para abrigar a família. Vejo as lágrimas rolarem dos olhos dela ao contar como a mãe organizava as panelas na parede, formando ali um armário invisível. Ela relembra uma infância muito sofrida, porém FELIZ, em que brincava no quintal com os irmãos.
Hoje, panelas na parede mesmo, só as esculturas dos prêmios que recebeu, mas bem que Lúcia gostaria, de por alguns instantes ver, novamente, a mãe a organizar as panelas na parede.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

MEUS OLHARES: ACRE, TERRA DE GIGANTES.

Respiro, escuto, sinto, degusto e então paro para pensar: o que vejo? Vejo um povo que, assim como eu, também respira, escuta, degusta, mas que acima de tudo existe. E você pode até dizer que se alguém tem todas essas característica, é CLARO que existe. Porém, ainda existem algumas pessoas que teimam em dizer que o Acre não existe. E aí eu te digo: como não? Não só existe como é uma terra de gigantes de carne e osso, cheios de amor pela terra que os acolhe, lhes dá sustento e lhes faz feliz.
Vejo o caso da gigante Dona Maria da Farinha, que passa horas do seu dia descascando e ralando a mandioca, prensando, peneirando e torrando até fazer a farinha, alimento tão comum na região. Foi com os pais que Dona Maria da Farinha aprendeu esse processo e é dele que ela tira o seu sustento, ajudando o esposo a criar a sua, também, grande família de sete filhos. Seu esposo, o gigante Zé do Açaí nasceu em uma família de seringueiros, onde desde cedo, teve que se acostumar com o que ele chama de “acordar junto com as galinhas”, pois era cedo que ele se embrenhava na mata, para cortar seringa e assim ajudar seus pais na produção da borracha.
Embora não tenham nascido nessa época, seus filhos possuem em suas memórias, de maneira bem viva, todo o conhecimento de como transformar o leite (látex) em borracha, tendo em vista as inúmeras vezes em que foram dormir ouvindo o pai contar suas histórias. Assim eles sabem que GIGANTE mesmo, não é aquele que tem uma alta estatura, mas sim aquele que com suas capacidades desenvolve o melhor de si.
Zé do Açaí, em sua juventude, por muito tempo, andou só, realizado o seu trabalho na produção e venda do açaí. Ele subia de peconha no açaizeiro para derrubar o cacho de açaí e tão logo o cacho caia ele passava a debulhar, para só então por água quente sobre os caroços e deles retirar a polpa.
Mas se você não vê, eu vi e te digo, quão grande peça o destino pregou, juntou logo o Zé do Acaí com a Maria da Farinha, mistura tão popular na Terra dos Gigantes do Acre.
É de Gigantes como esses que o Acre é formado. Gigantes que brigaram para ser brasileiros e que ainda hoje precisam brigar para que todos saibam que o Acre existe.